A Tecban está perto de finalizar os testes da fase 2 do Drex e também está testando pagamentos de auxílios sociais tokenizados. A iniciativa, realizada em parceria com a Personal Card, já distribuiu benefícios escolares que somam até R$ 1 bilhão, validando na prática a eficiência da tokenização no setor público.
Segundo revelou Luiz Lopes, gerente executivo de produtos digitais da Tecban, em uma entrevista ao Cointelegraph Brasil durante o Febraban Tech, o relatório final com os resultados da fase 2 já está sendo elaborado para entrega ao Banco Central.
“Passamos por três grandes ciclos nessa fase.
No primeiro, estruturamos regras e processos para tokenizar os ativos do agronegócio, como a CPR (Cédula de Produto Rural) e o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio)”, explica.
Pagamentos sociais entram no mundo dos tokens
Além dos ativos do agro, a Tecban aposta no uso da blockchain para resolver desafios na distribuição de auxílios sociais, utilizando a plataforma Nexchain. O piloto com a Personal Card permitiu entender como a tokenização pode reduzir custos, melhorar o controle e garantir mais eficiência nas transferências.
“O projeto trouxe ganhos relevantes, principalmente no backoffice, e seguimos mapeando novos indicadores para evolução”, destaca Lopes.
A Nexchain funciona como uma espécie de layer 2 do Drex, oferecendo uma camada de abstração da blockchain para bancos, fintechs e outras empresas que queiram emitir e gerenciar ativos digitais.
“Ela permite que as instituições foquem no negócio, enquanto cuidamos da infraestrutura, como nós de rede e contratos inteligentes”, completa.
Modelo de negócios e futuro do Drex
O plano da Tecban é disponibilizar comercialmente a Nexchain após o encerramento do piloto, previsto para o primeiro semestre de 2025. A plataforma, no entanto, não depende exclusivamente do Drex. Já é utilizada em operações tokenizadas que usam outros meios de liquidação, como o Pix.
“Assim que o Drex entrar de vez no mercado, esperamos um movimento acelerado de tokenização, especialmente por parte de instituições que buscam mais eficiência e novos modelos de negócio”, afirma Lopes.
Regulação favorece crescimento no Brasil
Para a Tecban, o Brasil vive um ambiente extremamente favorável à expansão dos ativos digitais. A legislação vigente, somada à atuação proativa da CVM e do Banco Central, cria segurança jurídica e atrai investimentos, inclusive de empresas internacionais.
“O próprio programa Lift, do Banco Central, é um exemplo disso, atraindo players de fora interessados em desenvolver soluções no país”, comenta Lopes.
Ele também avalia de forma positiva a proposta do Banco Central de incluir stablecoins dentro do mercado de câmbio. “O BC vem se inspirando no modelo DeFi e trazendo seus benefícios para o mercado regulado. Isso deve gerar mais eficiência não só no câmbio, mas em todo o sistema financeiro”, avalia.
Tecban além do Banco24Horas
A empresa também vem acelerando sua transformação digital. Apesar de ser conhecida pelos caixas eletrônicos do Banco24Horas, a Tecban amplia sua atuação com soluções como o Atmo, um dispositivo que permite saques com biometria diretamente no caixa do varejo.
Além disso, oferece serviços no Open Finance, na conectividade entre bancos e no gerenciamento de numerário, consolidando-se como uma empresa de infraestrutura digital e física para o mercado financeiro brasileiro.
Confira a entrevista completa
Fase 2 do Drex
Cointelegraph Brasil (CTBR): Recentemente, a Caixa revelou que está testando pagamentos off-line para o Drex. Com base nisso, como estão os testes da Tecban nesta segunda fase do Drex e qual a avaliação da empresa com relação à emissão da CPR Verde na Fase 1?
Luiz Lopes (LL): Nós estamos agora nos aproximando do final dessa fase 2. Estamos, inclusive, gerando o relatório final para o Banco Central com nossas observações e nossos pontos mapeados.
Passamos por três grandes etapas nessa jornada na fase 2. Então, só para relembrar, o nosso caso de uso consiste em tokenizar dois ativos do agronegócio brasileiro, que são o CPR e o CRA.
No primeiro ciclo, junto ao BC e CVM, focamos em desenhar os processos e as regras de negócios para tokenização e estruturação desses dois ativos de forma tokenizada, principalmente olhando oportunidades de ganhos de eficiência dentro dos modelos quando se compara o tokenizado com o tradicional.
Feito isso, no segundo ciclo, nós desenvolvemos todos os contratos inteligentes para dar CPR, que no fluxo é o primeiro ativo gerado, em que o agricultor emite esse título para buscar crédito no mercado.
O terceiro ciclo foi sobre o CRA: então, depois de gerar uma CPR, o crédito liberado para o agricultor entra numa etapa com a securitizadora, em que são consolidados um ou mais títulos de CPR e criado o título da CRA, que vai para o mercado secundário.
Layer 2 para o Drex
CTBR: Como a Nexchain pode se integrar com o Drex? Ela seria uma espécie de layer 2 para o ecossistema do BC?
LL: Isso mesmo. O objetivo da Nexchain é ser uma camada de abstração de toda a tecnologia que envolve a complexidade da blockchain.
Então, ela é uma camada em que os bancos e as instituições financeiras, como qualquer player do mercado financeiro, podem utilizar como base para geração de novos modelos de negócios. Temos toda a abstração da blockchain, com a criação e administração dos nós de rede e o desenvolvimento e a auditoria dos smart contracts da operação. E a instituição, então, foca exatamente no negócio para gerar valor para o usuário final.
CTBR: A tokenização de dinheiro social pela Nexchain (via Personal Card) foi aplicada com sucesso em benefícios escolares de até R$ 1 bilhão. Que lições desse projeto podem ser usadas para escalar ofertas com Drex?
LL: Sim, dos casos de uso, o que nós temos executado atualmente, é esse: voltado à distribuição de auxílios sociais, em parceria com a Personal Card, que tem bastante expertise na distribuição de auxílios, com licitação de diversos municípios.
Temos rodado esse caso de uso com eles exatamente para explorar e entender de forma real os benefícios de tokenizar esses auxílios.
A experiência tem sido bastante positiva e temos mapeado diversos ganhos, principalmente quando falamos em backoffice no primeiro momento desse piloto. Temos um road map de evolução desse MVP para extrair outros benefícios e coletar outros KPIs dessa operação.
Regulamentação
CTBR: Como a Tecban vê o caminho da regulação dos ativos virtuais e VASPs no Brasil, especialmente com o contexto de consulta pública prevista para stablecoins e exchanges?
LL: No Brasil, estamos num cenário bastante favorável para a adoção em massa dos ativos digitais. Principalmente porque já temos uma lei vigente com respaldo e segurança jurídica para que as empresas possam investir nesse segmento.
Também temos os reguladores, principalmente por meio da CVM e do Banco Central, como dois players que incentivam a inovação através dessa tecnologia. Então, temos sandbox e projeto piloto, por exemplo, em que esses reguladores oferecem guard rail para que as empresas possam inovar, testar e validar os ganhos de uso da rede blockchain.
E através disso, temos uma inovação para fomentar a geração de novos modelos de negócios, que está sendo um dos principais objetivos, inclusive, da plataforma Drex.
Temos um cenário bastante favorável para investimento nesse setor. Isso atrai investimento não só dentro do Brasil, mas também do exterior.
Os próprios programas do Banco Central, como o Lift, são ótimos exemplos que a cada ano vem atraindo mais instituições e empresas de fora do país, com o objetivo de participar desse ecossistema e contribuir para que esses ativos digitais sejam utilizados em grande escala aqui no país.
Stablecoins e mercado de câmbio
CTBR: Vocês esperam que, após a conclusão do piloto (primeiro semestre de 2025), a Nexchain seja oferecida comercialmente para clientes que desejem emitir seus próprios tokens? Qual o modelo de negócio previsto?
LL: Sim, essa é a ideia da Nexchain: a Tecban como uma provedora de infraestrutura para o mercado financeiro. E a Nexchain é independente da evolução do Drex. É uma plataforma para a tokenização de ativos.
Assim como o exemplo da tokenização dos benefícios com a Personal Card, ela independe do Drex. Estamos tokenizando um ativo e usando os meios de liquidação que o mercado tem disponível, como o Pix, por exemplo.
Então, a ideia é sim que ela seja mais um produto ativo do portfólio Tecban e, obviamente, com a conclusão do piloto e o avanço do Drex, ganharmos mais força no mercado. Assim que tivermos a entrada do Drex de fato no mercado, teremos um movimento ainda maior das instituições em tokenizar ativos.
CTBR: Como a empresa vê a proposta do BC de enquadrar stablecoins dentro do mercado de câmbio?
LL: O Banco Central vem explorando muito os benefícios da rede blockchain. O que é público, dito pelo próprio Banco Central, vem se espelhando muito no modelo do DeFi, trazendo o DeFi para dentro do mercado regulado.
Eu acho que não só o mercado de câmbio, mas todos os segmentos do mercado financeiro têm muito a ganhar com o uso dessa tecnologia blockchain. Então, temos explorado bastante isso através dos diversos casos de uso que tem dentro do próprio piloto do DREX.
Assim como um dos objetivos do DREX, que é fomentar a criação de novos modelos de negócio e melhorar a eficiência do segmento, acredito que o mercado de câmbio, tal qual os demais segmentos do mercado, tende a ganhar com o uso da tecnologia.
Caixas eletrônicos na era do dinheiro digital
CTBR: A Tecban vem migrando de um ecossistema voltado apenas para a entrega de numerário para uma empresa que integra diversas soluções de tecnologia. Quais os próximos passos da empresa? Nesse universo de dinheiro digital, qual o futuro dos caixas eletrônicos?
LL: A Tecban tem um portfólio de produtos bastante extenso. Atuamos na integração entre o físico e o digital, com soluções voltadas ao dinheiro físico, como o Banco24Horas.
O cliente que contrata a Tecban, não tem disponível somente a integração com o mundo físico, pois conseguimos, também, auxiliar, por exemplo, com todo o ciclo de numerário: desde o transporte de valor até a gestão desse numerário para bancos e para o varejo. Temos ainda nossa empresa de conectividade, voltada para as instituições financeiras e o varejo, com oferta de portfólio de conectividade para que tenham conexões seguras.
Nós temos inovado, falando do mundo físico, com o Atmo, que é um dispositivo que fica no ponto de venda do varejo, em que o usuário consegue fazer saque utilizando biometria, mantendo a segurança que ele já tem no Banco24horas, só que sacando diretamente no caixa do próprio varejo e otimizando o ciclo do numerário, inclusive reduzindo o custo com a coleta de dinheiro.
E obviamente olhando também para o futuro, temos os nossos produtos digitais, assim como o Open Finance. Temos a nossa plataforma há quatro anos e somos pioneiros no país. A Tecban, mais do que uma empresa de caixa eletrônico, é uma empresa de infraestrutura para o mercado financeiro. Apostamos em um leque de oportunidades para que nossos clientes atuem tanto no mundo físico, quanto no digital.
