Muito antecipada por analistas e investidores do mercado cripto, a explosão do preço do Bitcoin em 2025 ainda não ocorreu, apesar dos altos níveis de investimento institucional via ETFs e da crescente demanda corporativa de Bitcoin Treasury Companies.
Os ETFs de Bitcoin nos EUA somam atualmente US$ 138 bilhões em ativos sob gestão, com saldo positivo de US$ 13,1 bilhões em 2025, de acordo com dados da CoinShares.
Em paralelo, empresas como a Strategy (ex-MicroStrategy) e a Metaplanet seguem acumulando Bitcoin com suas estratégias de investimento corporativo. Pioneira no setor, a empresa de Michael Saylor possui 592.100 BTC em caixa, equivalentes a aproximadamente US$ 62,2 bilhões, enquanto a empresa japonesa acumulou 10.000 BTC desde maio de 2024, somando US$ 1 bilhão, de acordo com dados do Bitcoin Treasuries.
Embora o preço da maior criptomoeda do mercado esteja estabilizado em patamares elevados, acima de US$ 100.000, a valorização não reagiu, na mesma proporção, à força compradora desses grandes players.
Com essa onda de dinheiro novo e “inteligente” entrando no mercado cripto, o que está impedindo o preço do Bitcoin de disparar? Um estudo divulgado no X recentemente pela Bipa, exchange brasileira focada em Bitcoin (BTC), analisa as condições atuais do mercado para elucidar essa aparente contradição.
Uma das hipóteses levantadas é a de que as grandes instituições estariam comprando Bitcoin em operações de OTC (Over-The-Counter, ou mercado de balcão). A movimentação de grandes volumes fora das exchanges de criptomoedas, em tese, não impactaria diretamente o preço do Bitcoin.
Segundo a análise da Bipa, embora essa suposição seja válida no curto prazo, por si só não é capaz de segurar o preço do ativo. Os provedores de liquidez nessas mesas OTC ainda precisam adquirir o Bitcoin para repassar aos compradores institucionais, o que, no fim das contas, acaba gerando escassez do ativo em circulação e deveria, sim, pressionar o preço para cima.
Uma teoria mais controversa sugere que algumas corretoras ou custodiantes poderiam estar vendendo aos investidores “Bitcoin de papel” – uma exposição às oscilações do ativo, sem de fato manter as alocações correspondentes em seus cofres. Nesse caso, pode haver mais Bitcoins em circulação do que realmente existem, diluindo artificialmente a escassez e contendo a alta do preço.
O debate é válido, mas essa hipótese carece de provas concretas e, portanto, é igualmente insuficiente para explicar a dinâmica atual do mercado.
Quem está vendendo Bitcoin?
Descartando ambas as hipóteses, o estudo da Bipa recorre à análise de dados on-chain para identificar quais são as entidades que estão se desfazendo de suas posições nesse momento e, consequentemente, segurando o preço do Bitcoin nos patamares atuais.
Normalmente, atribui-se às baleias – entidades que detêm acima de 1.000 BTC – o controle sobre o direcionamento do mercado. Portanto, seriam elas que estariam “manipulando” o preço do Bitcoin em benefício próprio.
No entanto, a análise destaca que os dados on-chain mostram que, “desde o fundo do mercado de baixa em novembro de 2022, a ação média dessas baleias tem sido predominantemente compradora, contribuindo para a acumulação e sustentação dos preços ao longo do atual ciclo de alta.” Ou seja, mesmo com vendas pontuais, no geral, as baleias estão acumulando cada vez mais Bitcoin.
A pressão vendedora está concentrada em detentores que possuem 100 BTC ou menos. Ao contrário da crença de que os investidores de Bitcoin nunca vendem suas moedas, os dados on-chain mostram que “muitos holders realizam vendas significativas quando o preço atinge determinados patamares, evidenciando um comportamento racional de realização parcial e gestão de risco, mesmo entre os mais convictos.”
“A imagem abaixo compara a evolução da quantidade de moedas de Bitcoin em custódia de grandes investidores (as baleias) e dos pequenos investidores no período entre janeiro de 2024 e junho de 2025. Nela, é possível notar um grande movimento de venda de Bitcoin pelos pequenos investidores no movimento de alta que levou o Bitcoin dos 70 mil para os 100 mil dólares entre novembro e janeiro.”
Enquanto baleias e grandes players seguem acumulando, investidores menores, que possuem menos de 100 BTC, estão vendendo e absorvendo parte dessa demanda, impedindo que o preço do Bitcoin dispare na velocidade que muitos esperam.
Os dados on-chain revelam que, nos momentos de alta do Bitcoin em 2024 – impulsionados pela expectativa e aprovação dos ETFs nos EUA no início do ano, e pelo entusiasmo com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas no final do ano – foi registrado um volume expressivo de vendas por parte dos pequenos investidores.
Em ambas as ocasiões, essas entidades venderam mais de 100.000 BTC, em um movimento similar aos topos dos mercados de alta de 2017 e 2021. Mais recentemente, entre o final de maio e o início de junho de 2025, quando o preço do Bitcoin ultrapassou novamente a marca de US$ 100 mil, o volume de vendas foi significativamente menor, conforme o gráfico abaixo.
Pressão vendedora está acabando e retomada da alta está próxima?
A análise da Bipa aponta que, como contraponto, o volume de vendas dos holders de longo prazo nas últimas semanas, após o Bitcoin ultrapassar os US$ 100 mil, foi significativamente menor se comparado aos picos de venda anteriores.
Isso pode indicar que grande parte dos investidores que enxergavam a marca dos US$ 100.000 como barreira psicológica ou alvo para realização de lucros já se desfizeram de suas posições e, com isso, a pressão vendedora nesse patamar pode estar diminuindo.
Daqui por diante, mesmo que o fluxo de investimento institucional não se mantenha em aceleração constante, uma oferta restrita pode fazer com que fluxos de capital menores pressionem o preço do Bitcoin para cima, conclui a análise:
“Essa redução na pressão vendedora sugere que o mercado está mais maduro e resiliente, e pode estar se preparando para um novo ciclo de alta, impulsionado por uma base de holders mais convicta e um desequilíbrio crescente entre oferta e demanda.”
Apesar da nota otimista da análise da Bipa, dados on-chain divulgados recentemente pela CryptoQuant revelam que 15.000 BTC foram vendidos com prejuízo nesta semana por traders de curto prazo – aqueles que mantiveram seu Bitcoin por menos de 155 dias.
Considerando a possibilidade de novas quedas no curto prazo antes da retomada da tendência de alta, a base de custo médio dos detentores de curto prazo, atualmente US$ 97.000 e US$ 94.00, pode representar o fundo local, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.
