O Ethereum (ETH) surpreendeu o mercado ao registrar ganhos de 56% nos últimos 30 dias ao mesmo tempo em que o Bitcoin (BTC) voltou a romper os US$ 100.000. Apenas em 8 de maio, um dia após a atualização Pectra, o Ether subiu 20%, registrando uma das maiores altas intradiárias desde 2021.
Embora tenha liderado os ganhos recentes entre as principais criptomoedas do mercado, o preço do Ether ainda está 48% abaixo de sua máxima histórica e bem distante do topo local de US$ 4.000 registrado em dezembro de 2024.
Apesar do otimismo com a recuperação do Ether e a nova atualização, a QR Asset Management levanta ressalvas importantes sobre o futuro da Ethereum. Segundo o boletim de análise de mercado da gestora, embora as melhorias sejam significativas, elas não são suficientes para solucionar os problemas de escalabilidade e alto custo das transações no curto prazo.
A atualização Pectra implementou 11 Propostas de Melhoria da Ethereum (EIPs) destinadas a fortalecer a infraestrutura da rede em três frentes: escalabilidade, via soluções de segunda camada (L2), experiência do usuário (UX) e eficiência no staking.
Essa atualização unificou as fases Prague, focada na camada de execução, e Electra, voltada para a camada de consenso. Um dos pilares da Pectra é a abstração de contas (EIP-7702), que redefine a forma como carteiras e transações funcionam na Ethereum, conforme destaca o boletim:
“Hoje, existem dois tipos de contas na rede: contas de usuário (vinculadas a chaves privadas) e contratos inteligentes. Essa separação traz limitações práticas. Com a abstração, as carteiras poderão funcionar como contratos programáveis — permitindo, por exemplo, o uso de autenticação multifator, limites diários, ou até mesmo a adoção de regras de herança digital.”
Além disso, a atualização introduz o pagamento de taxas de transação com tokens diferentes de ETH, facilitando a entrada de novos usuários e melhorando a experiência dos usuários em aplicativos descentralizados (DApps).
O limite de staking por validador foi expandido de 32 ETH para 2.048 ETH, proporcionando mais eficiência para grandes operadores, como a Lido (LDO), que enfrentavam sobrecarga ao gerenciar diversas operações. Essa mudança visa tornar o sistema mais enxuto e escalável. Para validadores menores, foram feitas melhorias na rede e no uso de banda, reduzindo custos operacionais e promovendo maior descentralização.
Adicionalmente, a Pectra trouxe melhorias no modelo de sincronização e no armazenamento de dados, otimizando a propagação e o armazenamento entre nós da rede, aumentando a eficiência das soluções de camada 2.
Segundo a QR Asset Management, a Pectra alinha a Ethereum a ideias de produtos e serviços, abrindo mão dos ideais cypherpunks originais da rede:
“Com a Pectra, é como se a Ethereum tivesse adotado um sistema moderno, onde você pode pagar suas mensagens com qualquer forma de pagamento (inclusive stablecoins), e sua carteira (ou conta) funciona como um app inteligente, com recursos como segurança extra, recuperação de senha, limite de gastos ou até controle parental. Tudo isso sem precisar de um novo aparelho ou sistema paralelo.”
Problemas críticos da Ethereum persistem
No entanto, a atualização não resolve problemas críticos, alerta o boletim. O custo elevado das transações continua a ser um limitador, especialmente em períodos de alta atividade na rede.
Somado a isso, a opção por escalar a rede por meio de soluções de camada 2 resultou na fragmentação do ecossistema, prejudicando a experiência do usuário e favorecendo a migração para blockchains concorrentes, que atraem usuários com redes mais centralizadas, mas, ao mesmo tempo, mais eficazes.
Em grande parte, isso se deve à crise de governança que se estabeleceu na Ethereum Foundation devido às dificuldades de equacionar seus princípios de segurança e descentralização com a necessidade de atender às demandas do mercado.
Nesse contexto, o boletim aponta que a Ethereum está em uma encruzilhada:
“Por um lado, há sinais de resposta positiva às mudanças, com atualizações dando um fôlego renovado ao preço. A comunidade e a Ethereum Foundation mostraram-se capazes de adaptar o roadmap, o que mostra que a Ethereum não está estagnada como alguns acreditavam, porém pode indicar que sua recuperação será mais demorada, ou com um prazo maior.”
Diante desse cenário, resta saber se o mercado terá paciência para aguardar essa evolução. “A resposta a essa incógnita definirá se a Ethereum consolidará sua posição como plataforma líder mesmo em um ambiente competitivo, ou se verá sua dominância erodir em favor de projetos que preferiram velocidade à ortodoxia”, conclui o boletim.
Após a alta recente, o analista Marcel Pechmann, do Cointelegraph, projeto que o preço do Ether ainda pode valorizar 100% em 2025, atingindo um novo recorde histórico de US$ 5.000.